A influência dos votos evangélicos no Brasil
        

As eleições para presidente chamaram atenção para o peso do voto evangélico no Brasil, mas os fatores que influenciam a decisão dessa faixa de eleitores e a coesão do movimento como força eleitoral despertam opiniões divergentes.

Para o sociólogo Paul Freston, que estuda o papel dos evangélicos na política desde os anos 1980, não existe um voto evangélico coeso. Uma coisa, diz ele, é o discurso de líderes evangélicos. Outra é examinar a maneira de o evangélico comum votar.

"Não é um voto de cabresto. Mesmo quando o pastor é candidato e toda a igreja é mobilizada para votar nele, há casos de derrota fragorosa. Os membros parecem estar obedientes, mas não estão", diz ele à BBC Brasil.

"Estamos falando de pessoas que são cidadãos comuns, têm sua inserção na sociedade. Elas levam em consideração fatores pessoais, profissionais, de família, de classes", enumera Freston, professor da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo, e da Balsillie School of International Affairs, no Canadá.

Na opinião do sociólogo Alexandre Brasil Fonseca, se há coesão, ela vem não do fato de serem eleitores evangélicos, mas sim dos outros elementos que definem a identidade dos grupos - como origem social e capital cultural.

"O espectro evangélico é amplo e inclui diversas tendências e opiniões", diz Fonseca, diretor do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "O fato de os fiéis estarem numa igreja e falarem 'amém' para um pastor não deve ser visto como uma adesão integral."  Pastores

De acordo com levantamento do cientista político Antonio Lavareda, o segmento evangélico representa 25% do eleitorado brasileiro - cerca de 34 milhões de pessoas. E, na avaliação do pesquisador, a influência dos líderes religiosos sobre os fiéis é maior no caso dos evangélicos.

"Pesquisas têm apontado que o contingente evangélico tem maior capacidade de ser influenciado pelos seus bispos e pastores do que o contingente dos católicos", diz Lavareda.

"Temos 62% do eleitorado se dizendo católico, mas padres e bispos da igreja estão longe de terem a influência que os pastores evangélicos têm", compara o cientista político, que é especialista no estudo de processos eleitorais e foi consultor de comunicação nas candidaturas presidenciais de Fernando Henrique Cardoso.

Lavareda diz que a sociedade brasileira é eminentemente religiosa e que o circuito das igrejas sempre foi um instrumento fundamental nas agendas de campanhas.

"Todos os candidatos precisam interagir com as igrejas, frequentar os templos, ser apresentados por padres e pastores aos eleitores. É um ingrediente típico na disputa", afirma.

Na disputa presidencial deste ano, a aproximação com lideranças evangélicas foi uma das apostas das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que procuraram participar de missas e cultos e tentaram se identificar como políticos que valorizam a fé.

Ambas as campanhas contam com uma coordenadoria evangélica para dialogar com pastores e buscar apoio em diferentes igrejas. E temas como o aborto e o casamento homossexual se tornaram pontos sensíveis da campanha, com o segundo turno marcado por cobranças por um posicionamento claro sobre esses assuntos.

Debate moral

Na avaliação do diretor do Nutes, o posicionamento em relação a temas sensíveis pode ser decisivo para parte dos evangélicos. "Para este eleitorado, a questão moral tem significativo peso e centralidade na definição do voto."
Já Paul Freston diz que, no Brasil, os eleitores não costumavam decidir o voto com base em uma única questão, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos - onde é comum o chamado "single issue vote" (voto baseado em uma questão central).

"No Brasil, historicamente, os evangélicos não votam assim, outras questões têm uma importância maior. Ainda é cedo para afirmar, mas isso pode estar mudando", avalia o sociólogo.

A expansão da esfera de influência do eleitorado evangélico do Legislativo para o Executivo é outro fenômeno recente apontado por pesquisadores. Os evangélicos já têm três décadas de tradição em eleger representantes para o Poder Legislativo.

"Influenciar uma disputa presidencial é mais difícil", diz Freston. "Afinal, apesar de serem um grupo grande, os evangélicos são uma minoria."

"Neste ano, tivemos o caso da Marina Silva, a evangélica que chegou mais perto da Presidência até hoje, com quase 20% dos votos", acrescenta o sociólogo. "O fato de ela ser evangélica teve impacto neste resultado. E ela foi discreta, não fez o mesmo uso eleitoral da identidade evangélica que o Garotinho fez em 2002."

Garotinho

Os sinais de influência do voto evangélico em uma disputa presidencial já haviam aparecido em 2002, quando boa parte da votação para a candidatura do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (na época, do PSB, e hoje no PR) foi atribuída ao apoio de fiéis evangélicos.

"Garotinho já tinha uma base regional muito forte no Rio e usou sua identidade evangélica para se lançar nacionalmente. E se saiu bem. Ficou em terceiro lugar e quase chegou ao segundo turno", lembra Freston, referindo-se às eleições em que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente.

Segundo o cientista político Antonio Lavareda, uma pesquisa realizada dias antes do primeiro turno em 2002 indicou que o resultado do pleito poderia ter sido outro se os evangélicos fossem a maioria.

"Garotinho tinha 42% da intenção de votos no segmento, o que o colocaria 15 pontos à frente de Lula, que tinha 27% dos votos do grupo", cita o pesquisador.

Nas eleições do último dia 3 de outubro, Garotinho foi eleito deputado federal com quase 700 mil votos no Rio, a segunda maior votação para o cargo em todo o Brasil.

Outros candidatos evangélicos tiveram votações expressivas no país. A partir de 2011, o número de evangélicos na Câmara dos Deputados passará de 43 para 63, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
A corrida pelo voto evangélico nas eleições deste ano mobilizou pastores de igrejas por todo o Brasil, mas fiéis que frequentam cultos no Rio de Janeiro dizem nem sempre seguir a orientação de seus líderes religiosos na hora de votar, embora admitam que temas sensíveis à religião influenciem a decisão.
Em dois cultos visitados no Rio, o apoio dos líderes é declarado.
Na ADud (Assembleia de Deus dos Últimos Dias), no município de São João de Meriti, o pastor Marcos Pereira entrou na campanha de Dilma Rousseff (PT) após apoiar Marina Silva (PV) no primeiro turno.
Já na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no bairro da Penha, o pastor Silas Malafaia se declara pró-José Serra (PSDB) desde o início da disputa.
"É lógico que, antes, eu preferi apoiar a Marina, porque ela é evangélica", afirma Pereira. "Com isso, acho que agregamos pelo menos uns 80% dos votos da comunidade para ela."
"Agora, com a Dilma, creio que através da nossa pessoa ela consiga uns 3 milhões de votos. Vai balançar", aposta o pastor, que é conhecido por seu trabalho com presidiários e se autointitula "o pastor que cuida de mendigo, encarcerado, drogado, crackudo".
A popularidade rendeu ao cantor Waguinho, ex-pagodeiro e parceiro de Pereira no trabalho social, mais de 1,3 milhão de votos na corrida para o Senado.
Já o pastor Silas Malafaia declara seu apoio a Serra não apenas aos fiéis que frequentam a sua igreja --no último domingo, eram mais de 2.500 pessoas reunidas em canto vigoroso-- como também a seus seguidores no Twitter, aos telespectadores do programa Vitória em Cristo (transmitido por três emissoras de televisão) e a quem assiste a seus vídeos no YouTube.
Em um deles, Malafaia comenta a postura de cada candidato em relação ao aborto e ao projeto de lei criticado pelos evangélicos por buscar criminalizar o preconceito contra homossexuais, entre outras minorias.
"Oriento os fiéis a avaliarem a proposta de cada candidato, no que ele acredita, com que está comprometido, o que quer para o Brasil. E repito sempre: 'você é livre para votar em quem quiser, o pastor não é dono do seu voto. Não vai ter anjo na urna fiscalizando'", diz Malafaia, que conta ter dedicado 30 de seus programas à conscientização sobre a importância de exercer a cidadania nas eleições.
Os temas do aborto e do casamento gay são citados por muitos fiéis como decisivos para suas escolhas.
Na igreja de Marcos Pereira, o motorista André Vidal, de 35 anos, conta que acabou de cumprir oito anos de prisão, se converteu evangélico há um mês e também mudou seu voto para Serra.
Vidal diz que desistiu de votar na candidata do PT porque, em suas palavras, "no começo das eleições, ela estava querendo apoiar o aborto e o casamento de mesmo sexo".

OPORTUNIDADE
O bispo Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, é coordenador da campanha evangélica de Dilma Rousseff e diz que o voto pode variar muito de uma denominação para a outra.
De acordo com Ferreira, a orientação política não é transmitida na hora da liturgia. "Mas, nos momentos logo após o culto, a gente tem a oportunidade de falar às lideranças, e assim isso chega lá na base do povo", diz.
No culto da noite da última segunda-feira, o pastor Marcos Pereira não falou em política. Durante as orações, ele "libertou" fiéis que foram para o altar no fim da cerimônia, fazendo-os cair após prensar sua mão contra suas testas.
Pereira também conclamou uma prece fervorosa entoada por toda a comunidade em prol da conversão do traficante Marcinho VP, que está preso no Paraná e cujos filhos e esposa estavam no culto. O casal de adolescentes, que no ano passado lançou um CD, cantou para os fiéis.
CONSCIÊNCIA

Apesar de o posicionamento político dos pastores ser conhecido, nem todos os fiéis seguem o mesmo caminho na hora de votar.
A manicure Mônica Lima dos Santos, de 43 anos, ainda não definiu seu voto, mas diz que "na hora, com certeza, a consciência vai pelos projetos, não tem nada a ver com religião". "Religião é uma coisa, política é outra", completa.
Na igreja de Malafaia, também há indecisos entre os fiéis. O mecânico Josuel José, de 43 anos, diz que só vai decidir na hora do voto.
"Aqui as pessoas são livres para votar. Claro que procuram ter informações no meio para decidir, porque há confiança entre os fiéis. O pastor Silas conhece muita gente importante e dá um norte para a gente se orientar", afirma
Mesmo sem saber em quem vai votar, a desempregada Jacqueline Hollanda, 42 anos, afirma que a consciência política entre os evangélicos aumentou durante a campanha.
"Antes, diziam que era pecado se envolver com política. Hoje, sabemos que é importante formar opinião como cidadãos e temos consciência de que podemos mudar a história da política", afirma a fiel da igreja de Malafaia.






O jogador Kaká estaria descontente com a Igreja Renascer

São fortes os comentários de que Kaká estaria deixando a Igreja Renascer, por está descontente com a administração da igreja. À dois meses, uma parte do teto da sede da Renascer na Mooca, na Zona Leste de São Paulo, teria caído sem deixar feridos. Kaká teria consultado um perito e constatado a negligência. Em janeiro de 2009, o teto de um templo no Cambuci, na Zona Sul, também desabou, deixando nove mortos e 106 feridos. A assessoria da igreja negou o novo desabamento e disse que o templo da Mooca passa apenas por reformas. A assessoria de Kaká afirmou não ter autorização para tratar dos assuntos religiosos do jogador.
 

2 comentários:

  1. ACREDITO QUE ESSE NÃO É O TIPO DE MATÉRIA QUE
    DEVERIA ESTAR EM UM SITE EVANGÉLICO,
    POIS SOMOS TODOS DO CORPO DE CRISTO.
    O QUE UM SOFRE O OUTRO SOFRE !!!!!

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  2. O mais importante em divulgação de matérias são a veracidades delas, apartir do momento que está correta, não há porque não postar. As setes igrejas da Ásia tinha seus problemas e nem por isso deixou de ser exposto pelo o próprio Deus.
    As pessoas que são líderes tem muito maior responsabilidade, e se tratando de evangélico aumenta ainda mais. Ou não é sal ou luz? se é tem que fazer ou administrar de forma mais prudente. Gostei da reportagem, até porque está na 3ª pessoa, sem ponto de vista do reporter.

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